O policial federal Wladimir Soares, preso desde novembro e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por integrar uma organização criminosa que planejava um golpe de Estado, afirmou em áudio que o presidente Lula não tomaria posse, pois “nós não íamos deixar”. Segundo ele, o plano não avançou por falta de “pulso” do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

A declaração foi revelada pelo jornal O GLOBO e consta em relatório encaminhado pela Polícia Federal (PF) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana, após análise do conteúdo do celular de Soares, apreendido em novembro. No áudio, gravado em janeiro de 2023, o agente afirma que havia desmobilização entre as forças oficiais, mas apoio da base militar:
“O povo aqui está desolado, ninguém entende. O próprio MRE, velho, os caras não entendiam, não se prepararam para essa posse, porque não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar. Mas aconteceu. E Bolsonaro faltou um pulso para dizer: não tem um general, tem um coronel. Vamos com os coronéis, porque a tropa toda queria. Toda. 100%. Só os generais que não deixavam.”
A análise da PF indica que os diálogos reforçam a existência de um plano estruturado para impedir a posse presidencial. A denúncia da PGR contra Soares e outros 11 investigados, apontados como integrantes do “núcleo 3” da organização, será julgada pelo STF na próxima semana.
Em outro áudio obtido pela investigação, Soares afirma que apenas o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria apoiado integralmente o plano golpista:
“Exatamente, Garnier foi o único, cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo.”
O conteúdo corrobora trechos da denúncia da PGR, que aponta que os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) recusaram a proposta de Jair Bolsonaro para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022. Garnier teria sido o único a concordar.
A defesa de Soares alegou, na resposta à denúncia, que “não há nos autos qualquer evidência de que o acusado tenha participado de atos preparatórios ou executórios de qualquer plano contra autoridades públicas ou contra o Estado Democrático de Direito”.
Jair Bolsonaro e Almir Garnier já são réus no STF, suspeitos de participação na tentativa de golpe. As defesas de ambos afirmam que não houve envolvimento em qualquer articulação contra a democracia.